10 janeiro 2006

Reticências.

Falar o que aqui hoje?! Falar de mim?! Falar o que?! Não não... cansei de falar de mim, cansei de ser eu.
Prefiro o vizinho chato que fiscaliza todas as obras da minha rua.
Prefiro o vizinho surdo e simpático que conversa sobre curiosidades em geral e sobre a Itália.
Prefiro a empregada fofoqueira da vizinha que sabe mais da minha vida do que eu mesmo sonho em saber.

...

"Para ocasiões difíceis uma reticência." [ Lucíola de José de Alencar ]

Seria necessário uma reticência agora?! Ou apenas falta do que fazer?! Mas há tanto o que se fazer... O que acontece comigo?! O que NÃO acontece comigo?! Não sei, se soubesse não perguntaria tanto, se gostasse tampouco reclamava.

...
Mais um momento difícil, palavras me faltam... grande novidade, engraçado e completamente novo seria eu dizer algo que me fosse suficiente.

Eu fui Laura Brown* durante muito tempo da minha vida e, infelizmente, vejo que ela ainda existe em mim.
Antes de ser quem sou hoje eu não era ninguém. Eu era apenas o que queriam que eu fosse, o que desejavam ver em mim, era o avesso do que sinto, era o sorriso expontâneo, a criança educada e bem comportada, era, praticamente, um ser politicamente correto para quem assim desejava.
Tudo parecia muito bem, muito bonito, mas longe disso eu chorava no banheiro.
Exatamente como Laura fazia antes de deitar-se com Dan*, a única diferença é que ela chorava sentada na privada e eu choro no chão, encostado na parede.

É engraçado, não sinto pena de mim, isso sim seria o fim, me escondo para ninguém me ouvir chorando, ninguém tem nada a ver com isso, não gosto que me vejam chorando, mesmo me debulhando em lágrimas, se alguém estiver vendo eu continuo dizendo que não estou.

Ela mentia para si mesma, fingia estar feliz, estar bem em uma vida que lhe fora dada sem que lhe fosse perguntado se ela gostaria da mesma. Por dentro ela sangrava, ela morria, ela estava aos pedaços. Sozinha ela pensava demais, ela tentava morrer, mas ela queria apenas viver.

Um dia ela decide e abandona seus dois filhos e seu marido, deixa sua família pra trás e resolve olhar pra frente e apenas andar.
Quem pode julgar alguém por querer viver a vida que escolheu?! Ou que não escolheu mas que é da sua natureza viver?
Já existe tanto julgamento e tanta coisa fora do lugar que não me sinto no direito de tirar um livro sequer de seu local.

Quem pode me julgar por ser instável?! Quem vai me dizer que devo ir a um psicólogo?! Quem vai me dizer de quem sinto falta e do que preciso para respirar tranquilo?!

Quem?!

...

Engraçado, tantas palavras, tantos desencontros e eu só tava querendo um silêncio...
só precisava de colo.

[ Fui alí e já volto... se eu demorar, espere. ]


*Laura e Dan Brown são personagens do filme "As Horas" de Stephen Daldry. Laura Brown(Julianne Moore) e Dan Brown(John C. Reilly).
**Foto retirada do blog www.kmayumietal.blogger.com.br/

2 comentários:

Anônimo disse...

É vero.
Às vezes um colo. Um olhar de alguém especial é recofortante.
Às vezes falar é o essencial pra dividir angústias, anseios.
Mas, a gente só melhora vivendo, fazendo se realizando.
Então.. Seja feliz.
Feliz com todos os percaussos (uia q palavra chique) que a caminhada oferece.
Bjos.

Anônimo disse...

"Feelings are intense... Words are trivial..."

Quando o terremoto começa, e você não tem onde se abrigar, o melhor que se pode fazer é ficar encolhidinho, num canto, e esperar as coisas se acalmarem...

Abraços