14 julho 2006

"It's just that it's delicate..."


Inconstância!

Agora eu quero...
Quero lembrar de tudo, me perder em nada, olhar vazio e apenas lembrar.
Lembrar do que foi bom, lembrar de quando "não" era palavra feia e impronunciável e não uma palavra fundamental. Lembrar de esquecer os momentos amenos, de pouca semelhança, de concordância quase nula, das faltas, dos abusos e absurdos ditos ou apenas sugeridos, da ausência do "sim", da frequência do "não", do cansaço repetitivo, lembrar do que levei comigo.

Agora eu quero...
Quero esquecer as palavras doces derivadas de um copo de cerveja e de uma vodca barata, esquecer do vício e despediçar cada pedaço desse rosto, dedilhar cada nota daquela música que maldiz seu nascimento, que desmente nosso primeiro encontro, que engrandece nosso último. Quero te pôr lá no fundo pois ainda não descobri como te banir do que é meu, de esquecer que já fui teu.

Ainda quero...
Quero olhar um novo rosto, tocar um novo sonho, pensar que vale a pena, que tudo o que quero é possível, despertar um novo libido, beijar os lábios que toquei com os olhos, comprovar o gosto que senti dormindo, sentir a face com a ponta dos dedos, suave, de leve... Quero ver o sorriso que me deixa despido, sentir o frio do olhar desviado, da música certa em momentos "errados", o tremer de corpos no inocente abraço, ouvir o "bom dia" ao andar descalço, tocar os cabelos e sentir o afago não das mãos, mas da respiração, não ter medo da imaginação e poder imaginar.

Ainda quero...
Quero esquecer que é impossível, que o final sem o começo é previsível, que o seu rosto será sempre meu amigo, que o teu gosto será sempre um tanto onírico, que o sabor... o sabor foi dissolvido antes do ínicio, mas o sinto tão de perto, tão completo. Esquecer que ainda espero e que não há o que esperar, esquecer que ainda é cedo e que a ferida ainda vai doer, esquecer que não podemos ceder. Quero esquecer as músicas que não me deixam dormir, o semblante que não me deixa sonhar, as palavras que me fazem querer o que não tem dono mas é compromissado.


Agora eu quero esquecer o que me aflinge.
Ainda quero o beijo que não tive.


[15-07-06]


Foto: Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind) de Michel Gondry.

2 comentários:

Anônimo disse...

passei aqui.

[e achei melhor nao dizer nada]

Anônimo disse...

... cara, sem palavras.
ÍNCRIVEL demais pra ser estragado com qualquer comentário idiota. só queria dizer que; eu entendo.