24 fevereiro 2007

# Sábado (ruas)

Más Companhias de Arie Posin
Foi a proposta mais singela que recebi, creio que a mais honesta também... foi um sorriso apenas, algo que não se costuma receber em quartas ensolaradas.
Num cruzamento estúpido de ruas, entre semáforos e faixas de pedestres, um sorriso. Desses que você pára e se pergunta o porquê.
Sem razões lógicas.
Andei olhando pro chão, desviando os buracos e observando todo aquele descaso público... o dia fervia e eu pensando em problemas urbandos e governos ruins, era realmente um dia atípico. Nas calçadas ainda explorava minha mente procurando explicações para todos os corpos que encontrava por ali, a maioria deles tão pequenos que te faz franzir a testa instintivamente, que te revira algo por dentro e te vira o rosto na esperança de ver notícias boas no jornal exposto na banca... leigo engano. Assassinatos, furtos, tráfico, crianças, adolescentes, idosos, impostos, incêndio, desmoronamento, catastrofes, chuva em excesso...
Mesmo assim continuo andando achando que nem tudo está perdido e eu ainda conseguirei pegar um ônibus, voltar ao trabalho e dormir a noite.
Parece injusto, não?
...
E tudo começou com um sorriso.
Vieram olhares maliciosos na Duque de Caxias, os mesmos descartei e atravessei a rua.
Parei em frente a um supermercado e não entrei, desisti simplesmente. O engraçado é que havia caminhado até ali justamente para isso - meu real caminho era contrário -, mas mudei idéia, assim, como quem resolve ficar em casa num dia frio, como quem desvia o caminho do cinema e acaba na locadora da esquina, apenas desisti.
Também deixei de lado o ônibus, já estava atrasado mesmo então fui andando, rápido, mas ainda assim andando. Não corri como antes, esperei todos os sinais perderem seu fogo e caminhei no verde. Pisei nos mesmos buracos, dessa vez sem criticá-los, não pensei em governantes tampouco em injustiças e coisas lógicas e aborrecentes. Pensava apenas em mim e nos corpos.
Um tanto mórbido esse tipo de atitude talvez, um tanto pessimista e com falta parcial de prudência no momento, mas foi o que fiz.
Pensei no que eu fazia antes de criticar e respondi em voz alta para mim mesmo:
"Faço o que posso."
Não me considero injusto mas sou propício a possíveis injustiças sim. A perfeição mora longe de casa...
...
Cheguei próximo ao trabalho e mais um sorriso.
Retribuído dessa vez... com tudo o que tinha direito... "boa tarde", "até mais"... fui verdadeiro com um estranho que talvez tenha me xingado de louco na próxima esquina, mas achei que valeria a pena esse julgamento a meu respeito. Eu sorri porque já havia visto miséria demais e chorar não resolve problemas.
[ Flores por Zélia Duncan ]

5 comentários:

FOXX disse...

pois vamos sorrir...
vamos...
mesmo que depois...
sejamos acusados de loucos...
mas sorrimos...

=]

Anônimo disse...

Não tem coisa mais, mais, mais...(não tenho adjetivos para descrever isso, só quem recebe um sorriso assim sabe o que eu to tentando denominar) que um sorriso sincero, ainda mais no meio do caos, no meio do nada e quando nada faz sentido é que a gente precisa mais de um sorriso

Cristiano Contreiras disse...

Interessante a sua maneira de mesclar um contexto de um filme com a escrita que demonstra um cotidiano...um sentimento...um acaso.

seu blog é ótimo!

Di disse...

Obrigado pela visita, estou linkando vc lá tbém.
Volto + vezes
Grande abraço

Anônimo disse...

Os risinhos eram um convite, ou um desprezo pela sua figura? Uhn!!! Ah!! é mesmo não importa, serão sempre pessoas e pessoas são sempre avessas aos sentimentos dos outros.
Bom dia meu querido, te amo, mas amo muito mais ser amado ou saber que sei amar. Não é engraçado?
Beijos