14 maio 2007

# Terça - Feira (Autopsicografia de coisa nenhuma...)

"Eles costumam me deixar mais confortável"... é nisso que você tenta se concentrar a todo momento, mas o tempo está mudando e o frio não costuma esperar. As certezas de antes agora não parecem tão certas.

Perdi muito tempo escrevendo cartas? talvez o suficiente para esquecer de mandá-las.
Qual o problema? Será que demoro-me nos detalhes ou acumulo tantas situações que não consigo descrever numa carta a ordem cronológica das coisas, cada momento na sua devida palta, cada instante num parágrafo?

[ PAUSA ]

Ponho aquele filme que tira minhas dúvidas sobre aquele assunto... as dúvidas! São sempre elas as causadoras de toda reação que, em cadeia, desencandeia todos os outros motivos que não me recordo mas que são essenciais para uma determinada cura que procuro e não lembro bem qual é...
Porém é exatamente quando vem as dúvidas, e já não sei se o hoje é ontem ou se o ontem foi amanhã, apenas sei que o presente será no futuro e que este caminho cheio de possibilidades e "respostas para perguntas difíceis" anda meio passado.
O filme diz que é HORA DE VOLTAR, mas quero seguir em frente desta vez.
Estou aqui, sozinho numa cidade de milhões, sentindo o frio chegar, apoiado em travesseiros e buscando o edredon com os pés... queria encontrar outros pés embaixo deles, virar pro lado e encontrar seus olhos ou até mesmo seus ombros, enxergar seu rosto no travesseiro vazio, sentir peso nos dois lados da cama. Por vezes torna-se cansativo acariciar o lençol e sua foto não faz o mesmo efeito, ela não olha pra mim e não me traz seu calor. O perfume continua rondando a casa que ele nunca visitou e o sorriso aparece em cada vão e está pintado no espelho do banheiro.


... De repente esse apartamento pareceu tão grande, olho ao redor e quase me perco em seus metros quadrados, em seus poucos e realmente quadrados metros. Um cubo comigo estampado em todos os lados, corpo e alma separados bem como dedos e olhos, esperando ser montado, tentando se recordar como era quando inteiro. Agora um brinquedo de montar nada educativo. Preciso aprender, reaprender na verdade. Reavaliar os atos, reaver as perdas, reconquistar os bons hábitos e abandonar os duvidosos. Renovar, reciclar, todo um ato de refazer o feito, de reinventar o novo, reavisar os perdidos ou O perdido já que me refiro a mim mesmo.
Começar de novo, como na música, só que desta vez tirando as melodias, ficarei apenas com a sonoplastia básica: passos e portas se abrindo. Criarei a trilha no caminho, adicionando música a cada pessoa e cada momento importante, sem repetir, importâncias não se repetem e minha trilha sonora não terá várias versões será definitiva. "O que é o que é" é minha e os outros que não opinem, eu comando todos os botões desta vez. Djavan será só seu, mas Bethânia pode ser nossa.


[ PAUSA ]


Cadê você que ainda não voltou desse faz-de-conta que inventei para te ter perto de... esquece o tempo e volta pra nossa distância de olhos fáceis. Não consigo manter a aparência de que vou bem caminhando para o lado oposto. Cada um na sua estrada mas quero que a nossa esteja lado a lado. Outro não e a coroa cai, a realeza vai abaixo. Acabou o fingimento, vive apenas o fingidor. Autopsicografia de coisa nenhuma. Volta e estampa meu sorriso ao lado do seu no espelho, mistura nosso cheiro no meu lençol, marca meu travesseiro, toca meu pé com o seu, apoia teus ombros em mim e fecha teus olhos a noite... toda noite... e fica! Aumenta meus metros quadrados, faz minha cabeça parar de rodar e deixa ela se acostumar com teu cheiro. Mistura todas as coisas, me ajuda a desfazer os nós e vamos começar em linha reta. Tomarei minha sanidade de volta longe dos frascos de remédio e permanecerei em pé, prometo... a mim, à você... a mim, prometo pra mim, faço por mim, pensarei em mim... não é esse o segredo? "Mim" antes de verbo mesmo sabendo que está gramaticalmente errado? Eu posso conviver com isso, aprendo fácil. Não são condições, sequer estou perguntando. Afirmo que faço e peço ajuda...


[ PAUSA ]
...
- Fica essa noite?
- Fico... mas não posso prometer que estarei aqui na próxima noite...
- Então não durmirei...
- ... desculpe...
- ... esta noite, você fica?
- Claro.
- Vamos dormir, ok?
- Tudo bem.
- Me abraça...


[ Isobel - Dido ]
23h28
10/05/07

4 comentários:

FOXX disse...

posso ser sincero?
o q mais gostei foi o diálogo e o primeiro paragrafo...

"Perdi muito tempo escrevendo cartas? talvez o suficiente para esquecer de mandá-las."

Fabricio disse...

querido,

muito obrigado por ter visitado meu blog. fiquei muito feliz com o que escreveu sobre ele. para mim é mais que um elogio já que você também escreve maravilhosamente bem!

amei tudo aqui!! visitarei sempre que puder...

grande abraço!

=]

bagatella disse...

Você escreve cada dia melhor... sempre fui uma grande admiradora dos seus escritos... pensamentos maravilhosos.

Um beijo e um abraço do tamanho do meu carinho por você.

Um Vivente disse...

As cartas, quando escritas com sinceridade, guardam em si algo que vai muito além das palavras.

Elas parecem registrar consigo a mente do seu autor. Mesmo que essa mente não tenha sido totalmente revelada nas linhas e letras ali expostas.


As cartas, quando escritas com sinceridade, guardam relatos que somente os olhos do seu leitor poderão ler.

E é este o problema: as elas podem significar muito. Tudo depende da real vontade do leitor em querer enxergar este muito.


Aprendi que tudo o que você escrever eu tenho que ler no mínimo três vezes, em dias diferentes. Assim eu poderei dar uma chance para cada eu interpretar, cada qual a sua maneira, suas palavras.


Um forte abraço.

Vinícius.