23 junho 2007

R(é)UConvexo

A Sete Palmos - Primeira Temporada

Vou te contar um segredo...
De como cheguei mais cedo para ver o rosto de todos os dias maquiado e imóvel.
Eu tinha escolha, sei que tinha, mas precisava da certeza óbvia que todos precisam, fui São Tomé por meia dúzia de minutos atropelados e quis sair correndo pelo hall.
Encarar a realidade me assusta.

Vou te contar um segredo...
Havia sêmen naquela cueca e sinceridade plastificada num sorriso falso.
Era como um jogo de possibilidades e nenhuma a meu favor.

- Eu te proibo de corrigir meus passos.
- Você sempre se arrepende no final, então achei melhor...
- Então não ache!
- Só não queria que você se perdesse.
- Deixa eu decidir isso, ok?
- Tudo bem...
- Deixa eu tropeçar no meu próprio cadarço, cair no meu silêncio, bater a cara na parede errada, sei lá, o que você preferir... ah, como detesto essas metáforas bartas que uso na tentativa de me explicar. Para quem? Para quê? Nem sei porque estou divagando sobre essas coisas na sua frente.
- Pode desabafar...
- Ah, dane-se sua compreensão! Eu quero apenas o teu não pr'as minhas vontades...

... isso já não é segredo (quando?).

Então vou te contar um segredo, um novo segredo, te mostrarei um objeto guardado...
Há alfinetes na almofada, ninguém sabia disso até que mostrei dois pontos em minhas mãos - digitais desfoques - acreditando realmente em alfinetes.
Vou te contar um segredo.
Eu sou as duas pessoas do diálogo e as vezes esqueço de unir os dois e ser eu mesmo.
Alguém conhece meu equilíbrio e eu já fui feliz assim.
Não o conheço bem, não me conheço bem.
"Alguém conhece meu equilíbrio."

Vou te contar um segredo...
A morte diária faz bem. Elisa Lucinda disse e eu acredito.
Ressucitar não é fácil, mas não pretendo andar sob as águas, quero apenas nascer de novo.
Não é milagre, é apenas necessário.

Estou cheio de referências em mim mas nenhuma delas me define completamente, algumas nem superficialmente.

- Preciso de você.
Não sei, do que você foi pra mim um dia... do que nunca se permitiu ser. Preciso daquela parcela de culpa que te anula de qualquer erro meu.
- Isso também é necessário?
- Como também?
- Tudo até agora tem sido.
- Bom, não pensei...
- Exato! Você não pensou. Qual a novidade nisso... tudo é necessário, imediato e de acordo com suas vontades. Meu tempo, meus sims e - por raras vezes - meus nãos.
- Certo, mas você não me dar a chance de...
- ... explicar? Pra quê? Ou melhor, explicar o quê? Você vive se explicando sobre o que ninguém te perguntou, dando satisfações de coisas que ninguém quer ou precisa saber. A vida é tua, é minha, sei lá, parecia ser nossa.
- Você tá magoado comigo, né.
- Estou magoado comigo por não ter tido a coragem de dizer que você não podia tomar sempre a frente de tudo, por deixar você abafar minha voz até agora.
[Silêncio]
- Quer que eu vá embora?
- Não. Mas fica um pouco escondido essa noite, tá?
- Tudo bem.
E em frente ao espelho tudo é o que parece, principalmente quando represento o mesmo papel dos dois lados.
"Me mata essa vontade de querer tomar você num gole só."
[ Digitais de Isabela Taviani]

5 comentários:

Anônimo disse...

Adiamento

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã…
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não…
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico…
Esta espécie de alma…
Só depois de amanhã…
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte…
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos…
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã…
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro…

Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã…
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância…
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital…
Mas por um edital de amanhã…
Hoje quero dormir, redigirei amanhã…
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo…
Antes, não…
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã…
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã…
Sim, talvez só depois de amanhã…

O porvir…
Sim, o porvir…

Álvaro de Campos,

pediu-me um comentário??? então... completo(???)com lógica irreal ou realidade ilógica???

O Fingidor disse...

Completo assim como o texto e as expressoes confusas contidas nele.
Talvez meu texto mais confuso.
Talvez o mais lógico!

Álvaro de Campos... nada melhor para explicar o que não se explica.
amo você Puzzle!
rss

Jorge Abrão disse...

Oieee!!!
Td bom? Vim passear por aqui tb, espero que não se importe... rs
Gostei do conto, mas tarde eu volto pra ler os outros abraço

FOXX disse...

e nós ainda temos segredos um com o outro?

Menina Lunar disse...

Tô boquiaberta, você escreve-finge maravilhosamente bem.

Posso voltar mais vezes?

=]

Beijo grande.