23 fevereiro 2011

Minhas saudades

Nem toda viagem possui areia suficiente para nos sentirmos em casa.
E quando isso não acontece, mar algum parece ser grande o bastante para afogarmos o que quer que seja... mágoas corriqueiras, queixas de uma rotina estafante... êxtases de noites que não duraram mais que duas horas de um dia naquela semana daquele janeiro de qualquer ano esquecido lá atrás.
Esse mar então vira apenas paisagem que não passa, como se estivesse estampada num cartão postal desses que sempre namoramos em bancas de revistas, mas que nunca compramos.

Ninguém mais escreve cartas.
Ninguém mais me escreve cartas.
Quero cartaz.

Nada precisa mudar. Sou flexível e meu jeans vai aguentar ainda mais alguns anos... gosto das coisas duradouras que, mesmo surradas, nos vestem tão bem, se tornam referências de nós mesmos... mesmo que para os outros.
O que me lembra que não gosto de referências, mas parei de me incomodar. O que é contraditório e completamente compreensível... mesmo que para mim.
Sou minha própria referência e as vezes, até mesmo eu, me abstenho dela. Não quero ser um farol, muitas vezes nem achado eu quero ser, viro música instrumental e não deixo rastros, apenas os sigo.

...
E meu mar agora é rio calmo e quase transparente. Olhando através dele você encontra todas as minhas saudades e, se procurar em baixo das pedras roladas, pode até se deparar com um pouco da minha poesia, essa que não mostro a ninguém, mas que é tão livre quanto a correnteza que a guarda.
Lá tem areia suficiente para que qualquer viagem seja como estar em casa, se sentir à vontade, sentir a vontade de querer correr sabendo que pode voltar e deitar em berço quentinho, colo conhecido, colo das boas lembranças e de lembrança nenhuma.

Lá é tão lá quanto aqui poderia ser. E mesmo não sendo assim tão próximo, quando lá chegarmos, o aqui já terá mudado de endereço e lá será mais adiante.
Fluxo natural das coisas, sempre se procura o que já se achou e quando descobrimos isso, já procuramos um outro algo, um outro alguém.

E minhas saudades?
Ahh essas já não estão mais lá... nem aqui... mas onde tiver areia e possíveis mares, muito longe não devem estar.

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