19 outubro 2006

# Quinta - feira (dedilhando no escuro)

O Piano de Jane Campion.
"Porque sofrer calado é uma merda."
Ótima definição para o gritar calado, para o som doce, belo e angustiante das teclas dedilhadas suavemente por mãos que não conhecem o significado frágil das palavras mal ditas(malditas).
Falaram-me do quereres do Caetano... preferi o brega modernizado da Calcanhotto.
Perguntaram-me sobre dor, ópio, papel e caneta... respondi com bandeiras e doce veneno.
Argumentaram algo a respeito de igualdade de sentimentos, intensidades... optei por lenhas e por não saber o que vou dizer e o que quer dizer.
Sorriram-me com os olhos por trás dos óculos sujos e de aro grosso... baixei os meus óculos e sorri timido balançando a cabeça negativamente. Se entregar é mais difícil do que parece... resistir é um terço disso, mas menos controlável.
Desejos, contrastes, preto no branco, marrom no azul, assimetria de cores combinadas ilogicamente.
Canções que falam por nós mas pretendo falar por mim mesmo sempre... até você aparecer novamente por trás de uma porta qualquer.
Você sempre faz isso, me entende sem que eu peça, me pede coisas sem que eu entenda... se despede antes de amanhecer e nem sequer passou a noite comigo.
Parece algo que inventei enquanto dormia ou enquanto andava com uma soda na mão. Não é perfeito mas para mim basta e é o que mais se aproxima de tal.
Talvez realmente não exista, talvez eu já o tenha visto, quiçá um dia eu conheça, quem sabe nunca saiu do meu lado... quem sabe leia o que acabo de escrever, quem sabe veja apenas o rastro das palavras que não escrevi mas que passaram próximas a meu ouvido.
Duvidar da realidade é maneira mais fácil de distrair o consciente e se sentir normal. Mas derivado de qual paradigma viria tal normalidade?
Não questionarei sanidade, prefiro a liberdade que uma camisa de força(social) pode me ofercer.
Homens se conhecem tão bem como um cão conhece outro. É a mesma lógica irracional aplicada a ambos. Um sente o cheiro do outro e algo lá dentro muda, não é preciso vergonha para provar do gosto semelhante de um corpo igual em atributos mas completamente diferente em formas, cores e gestos... mãos, dedos, boca e barba por fazer.
Não como um cão, um felino talvez, um felino que percorre devagar - mas não traiçoeiramente - o corpo com a língua.
... E volto a você.
Você que me desvenda de forma firme e não menos delicada, você que não sei o nome, que não sei de onde pude arrancar tanta realidade contida em... melhor parar, seria onírico e irônico o destino das reticências.
"Porque sofrer calado é uma merda." ... e quem disse que no sofrimento também não se encontra o gozo de poder sonhar com algo melhor pra si?
ser egoísta nem sempre é defeito, por vezes é necessidade... basta exercitar ou ao menos querer. Estou precisando querer...
*O dono da frase nem saberá que a usei, mas peço liceça do mesmo modo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi, obrigado pelo comentário e pelas dicas também, vou modificar o texto. Adorei o post "sofrer calado é uma merda". Prefiro sofrer gritando, cantar um grito desafinado, desafiador. Isso mesmo, desafiar a dor, e os medos e as pessoas que os despertaram. Amar e odiar ao mesmo tempo com a mesma intensidade. Fazer um show, uma guerra por qualquer coisa que se veja, que se sinta, que se realize.