11 março 2009

Deixe Secar

Cinco da tarde.
Ou da noite, já não parece importar.
Dia quente lá fora mas, aqui dentro, algo derrama, algo escorre, transborda como um gozo que não se contém, involuntário. E o prazer não confirmou presença, nem caixa postal, nem voz, nem nada, apenas gozo.
Mancha branca qualquer, quase um carimbo de quem cumpre um compromisso burocrático.
E onde ficamos nós?
A cidade vai vestindo o seu cinza rotineiro e há muita neblina nos humores.
Não consigo te achar e sequer saiste de casa.
Pés no chão, mãos grudadas nos bolsos da bermuda que ficou no tapete do quarto.
Minha cabeça inquieta largou meu rosto na janela chuvosa da sala e cá estou... fragmentado pela casa, uma parte em cada vão e acabo de jogar fora meu sorriso torto em seu vaso preferido.
Pode levar!
Se quebrou agora cola... junta tudo, me põe num copo e bebe. Deixa apenas uma gota secar no carpete para que nada seja esquecido, mas para que a lembrança não deite sempre em nossa cama.
Deixe secar.
Quanta saudade é possível sentir até que se mude de idéia?
Pois é... me diga você.
E, antes de dormir, tome um copo d'água.
Está quente aqui dentro e o gozo secou.

"O carinho do dedo adolescente

que eu poderia fazer em mim
de repente,
não te substitui - nem me ilude
É incompetente!
Parece ter uma plaquinha pregada decente:
'Lugar de outro - não entre.'

Trecho de “Lugar do Outro” de Elisa Lucinda do livro "Euteamo e Outras Estréias"

Um comentário:

Carla Jemima disse...

nossa que intenso,
que lindo!!
"Mancha branca qualquer, quase um carimbo de quem cumpre um compromisso burocrático.
E onde ficamos nós?"

Boa pergunta!

nossa, é tão intenso ler-te!
é tão incrivel ler-te!

esse texto fla sobre saudades de amor em uma relação que jah caiu na rotina??
acho que acertei dessa vez, né?

bjins
continue incrivel!