Cinco da tarde.
Ou da noite, já não parece importar.
Dia quente lá fora mas, aqui dentro, algo derrama, algo escorre, transborda como um gozo que não se contém, involuntário. E o prazer não confirmou presença, nem caixa postal, nem voz, nem nada, apenas gozo.
Mancha branca qualquer, quase um carimbo de quem cumpre um compromisso burocrático.
E onde ficamos nós?
A cidade vai vestindo o seu cinza rotineiro e há muita neblina nos humores.
Não consigo te achar e sequer saiste de casa.
Pés no chão, mãos grudadas nos bolsos da bermuda que ficou no tapete do quarto.
Minha cabeça inquieta largou meu rosto na janela chuvosa da sala e cá estou... fragmentado pela casa, uma parte em cada vão e acabo de jogar fora meu sorriso torto em seu vaso preferido.
Pode levar!
Se quebrou agora cola... junta tudo, me põe num copo e bebe. Deixa apenas uma gota secar no carpete para que nada seja esquecido, mas para que a lembrança não deite sempre em nossa cama.
Deixe secar.
Quanta saudade é possível sentir até que se mude de idéia?
Pois é... me diga você.
E, antes de dormir, tome um copo d'água.
Está quente aqui dentro e o gozo secou.
"O carinho do dedo adolescente
que eu poderia fazer em mim
de repente,
não te substitui - nem me ilude
É incompetente!
Parece ter uma plaquinha pregada decente:
'Lugar de outro - não entre.'
Trecho de “Lugar do Outro” de Elisa Lucinda do livro "Euteamo e Outras Estréias"
Um comentário:
nossa que intenso,
que lindo!!
"Mancha branca qualquer, quase um carimbo de quem cumpre um compromisso burocrático.
E onde ficamos nós?"
Boa pergunta!
nossa, é tão intenso ler-te!
é tão incrivel ler-te!
esse texto fla sobre saudades de amor em uma relação que jah caiu na rotina??
acho que acertei dessa vez, né?
bjins
continue incrivel!
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