15 junho 2009

Caramelo de Nadine Labaki

Caramelo de Nadine Labaki

Por que tão cedo fui abrir meus olhos?
Havia ainda tanta ilusão para alimentar e guardar em fotografias que me sinto nu agora...

Por não ter bolsos, por não saber onde colocar as mãos, por estar perdido demais para perguntar pra onde.
Não consigo mais encenar meu papel no palco. Nem mesmo consigo colocá-lo em cena na minha própria cama... me deito num lençol antigo - eu e minhas cobertas rasas - e não penso, não choro, não faço nada. A TV ligada me remete a qualquer coisa solta que não consigo juntar em minha cabeça porque o barulho do vento brigando com a janela me tira a paz.

Qualquer barulho é perigoso demais...

Deito a cabeça no travesseiro amassado e me ponho a olhar para o celular... branco, frio, inexpressivo. Não me dá sequer um toque nem deixa a Amy cantar pra mim anunciando que você está do outro lado da linha.

Inútil tecnologia!
...
Mas sei que virá.

Arrumo o quarto, penduro a melancolia no armário. Compro aquele vinho caro que você diz gostar e me agrada o perfume, patês e torradas finas... eu sei que virá.
É nosso aniversário! e são apenas duas da tarde...
4 anos... poderia também somar os meses, dias e horas... mas o "4" de repente me parece um bom número, completo.
...
Você ainda não chegou, mas só se passaram duas horas desde que olhei no relógio em cima do criado-mudo.
Mais 20 minutos e você há de chegar...
O celular tocou... e ao dizer "alô", com um certo desespero, disparei:
- Você sumiu... o que houve?
- "Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar. Mas sumi para estar para sempre do seu lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua desajeitada e irrefletida permanência."
- Mas...
...e sem que pudesse sibiliar qualquer outra palavra, a telefonista tomou a palavra pra si e solicitou que colocasse mais uma ficha.
E você não veio.
Mas mandou um recado... um recado decorado, fingido e usado... um recado roubado das mãos de uma certa Medeiros que, talvez, tenha te iludido assim como você fez.
Já não sei se ela te iludiu ou se foi mais fácil acreditar em palavras bonitas. Pois apenas no refúgio das palavras escritas é que conseguimos achar a tristeza bonita, mas quando estou sozinho no quarto ela não se mostra tão bem vestida.
*Citação de Martha Medeiros

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