27 maio 2011

(ao) meio

"me corrijam se eu estiver errada
a realidade é nossa maior fantasia."
[Martha Medeiros]
Eu fantasiei tantas coisas que esqueci de segurar o espelho antes que ele se quebrasse às minhas costas.
Catando os pedaços não consegui criar uma unidade.
Nem dele, nem minha.
Mas li em algum lugar que não existe uma unidade realista pra chamar de minha em lugar algum.
Algumas religiões afirmam que existe uma unidade divina, então talvez seja isso mesmo, não existe unidade ao nosso alcance e, talvez por isso, criemos certas fantasias, para preencher lacunas.

E mesmo em fantasias é preciso manter um pé na realidade, mesmo um algo criado, imaginado e colocado como real.
O que seja.
Afinal, vez ou outra, não conseguimos mais colar o que foi quebrado e temos de substituir... ou simplesmente abrir mão.
Há momentos em que algumas lacunas necessitam que a deixemos abertas para que outros cheguem e preencham.

[ o inverso também. ]

(...)
... e eu quis dizer a verdade, mas não tinha ninguém lá para ouvir meu discurso dramático que só um leonino consegue fazer.
Havia um palco imenso só para mim e um teatro disponível, mas não havia público nem flashes, não havia nada, só um eco perturbador que gritava em meu ouvido tudo o que eu repetia na esperança de que você ouvisse.
Mas você não sabia!
Não tinha como saber!
Eu não te contei... não te avisei, não enviei convite, sequer comentei... e ainda assim eu esperei por você a noite toda... até a noite virar dia e noite novamente.
Penso que espero até hoje e, de certa forma, cobro sua presença.

Não sei se quero sua atenção ou sua compreensão... sei que não quero mais nada que você possa oferecer, quero o que você não me oferece. Quero chegar onde você não deixa, onde nem você ousa entrar por medo de seu próprio ferrão.
Quero aquele beijo que eu tinha e hoje você me dá em doses homeopáticas como que por agrado.
Não quero agrados ou brindes, sou eu quem dou os presentes!
Dispenso a boa educação, me agrida, brigue comigo, grite, esperneei... mas saia da zona de conforto e me confronte!
Nenhum leão domado dorme por tanto tempo se não há assistência, persistência... ele acorda e se volta contra o domador, morde e vai embora.
Lamenta, mas ai já é tarde, já passou, a boca já foi fechada e os dentes cravados.
Não aprendi a fazer reconstituição, pois ainda tento me livrar do veneno de seu ferrão.

(...)
... e eu sei que estarei sentindo isso até que você acabe com tudo, com tudo que não houve começo e sim um meio interminável...

"fidelidade é não contar pra ninguém."
[Martha Medeiros]

Um comentário:

JC disse...

Terrível. Visceral. E totalmente próximo à realidade, no querer e no anti-querer que marca nossos desejos menos confessáveis...